22 junho 2012

Números são números


Mas quando as pessoas decidem que os números são mais importantes do que as pessoas, os números tornam-se o centro da vida.
Assim, o governo do sucesso, o governo que dizia estar a fazer tudo como deve ser feito, o governo que até já falava em devolver o que roubou aos funcionários públicos, é o mesmo que agora deita as mãos à cabeça por ter recusado o óbvio: quando as pessoas não consomem a economia afunda-se (vivemos numa economia de consumo). A isso tem de se juntar a gula dos mercados, que se alimentam de juros. E que podem dizer coisas tão profundas como esta: O magnata norte-americano Donald Trump defendeu que a instabilidade na Europa representa nesta altura uma "grande oportunidade" para os investidores internacionais, uma vez que se pode "conseguir tudo a troco de nada". Trump incentiva os homens de negócios a aproveitarem-se de países como a Espanha: "Um país fantástico que está febril". Veja-se: houve uma explosão nos gastos com juros e um desvio na cobrança de receita de impostos maior do que o esperado. Assim, o défice dos dois subsectores (administração central e Previdência) passou de 194 milhões de euros nos primeiros cinco meses de 2011 para 1238 milhões no mesmo período deste ano, o que se traduz numa subida de 537% (seis vezes mais), com base nos dados da Direcção-Geral do Orçamento. Apesar de, mesmo num contexto de alto desemprego e de redução de salários e pensões, a colecta de IRS ter aumentado mais de 12%. O défice do Estado rondou os 2700 milhões de euros nos cinco primeiros meses do ano, mais 35% do que em igual período do ano passado, fruto não só da queda da receita fiscal, mas também do aumento da despesa.
Fontes: 1,2,3

19 junho 2012

Adeus 

Adiós 

Arrivederci 

Ciao

Au revoir 

Auf wiedersehen 

Goodbye 

Adiaǔ 

Sayonara 

Namaste 

Blessaður 

Cześć 

Tashi Delek

01 junho 2012

Ainda e sempre o que importa

Mesmo depois de uma intensa cultura televisiva (filmes, séries, documentários, debates, noticiários) a população continua a ser encantada pelas vozes que, cá e lá fora, falam como se estivessem num coro sob a batuta de um maestro comum. O encantamento é quebrado pelas vozes do contra, as quais, por serem do contra, só encontram eco em quem também é do contra, ou seja, minorias (mesmo que relativamente numerosas).
Como quebrar esse encantamento? Até agora não se conseguiu. A população resiste e permanece crente, mesmo que já saiba que os reis não recebem o poder de Deus. Ou que insista no"eles são todos iguais". A população tem o dom de apostar na igualdade, como se vê na hora certa acorrer às urnas, onde sempre premeia a igualdade. Será que quando a população se refere à igualdade apenas reclame para si própria a legitimidade da ilegalidade ou tratar-se-á de algo ainda mais refinado?
Como sou um tanto ou quanto limitado, opto pela transcrição de alguns cabeçalhos e leads dos jornais de hoje:

«Arcebispo de Braga diz que quase se engasgou com valor da reforma de Jardim Gonçalves» (jornal i) / «O arcebispo de Braga, Jorge Ortiga, confessou hoje que quase se engasgou quando esta manhã tomava o pequeno-almoço e leu que o antigo presidente do BCP, Jardim Gonçalves, recebe uma reforma de cerca de 175 mil euros.»

«Portugal arrisca pôr-se a caminho do Terceiro Mundo, diz Teodora Cardoso» / «A presidente do Conselho de Finanças Públicas, Teodora Cardoso, considera que a política de cortes salariais aconselhada pela troika e seguida pelo Governo pode pôr Portugal a caminho do Terceiro Mundo. “Hoje em dia é praticamente impossível um país desenvolvido, como, apesar de tudo, nós somos, andar a competir com os países muito mais pobres do que nós, com níveis de rendimento e, portanto, de salários muitíssimo baixos”, sustentou numa entrevista à Antena 1. “Se o nosso nível de competitividade quer ir para esse lado, isso significa que, então, nós nos estamos a candidatar a passar para o Terceiro Mundo, se não para o quarto.”» (jornal Público

«PCP diz que renegociação da dívida será inevitável» / «No encerramento do debate agendado pela sua bancada sobre a renegociação da dívida, o líder parlamentar comunista, Bernardino Soares, afirmou que "a alternativa que está em discussão não é renegociar ou não renegociar, é renegociar agora com algumas condições ou renegociar depois". "Não há alternativa à renegociação, a opção é termos uma palavra a dizer agora ou não termos uma palavra a dizer e esta ser-nos imposta de forma abrupta", declarou, rejeitando as acusações da maioria de que renegociar significa "não pagar". O deputado do PCP sublinhou que renegociar "é rever os prazos, as taxas de juro e eliminar a dívida ilegítima. Há juros agiotas e especulativos têm de ser julgados e condenados"» (TSF).

15 maio 2012

A democracia de que não se gosta

Não falta por aí quem perore sobre a democracia. Perorar é fácil, o pior é quando, como na Grécia, a democracia se alia ao populismo e o país fica ingovernável: «Os levantamentos de depósitos dos bancos gregos ascenderam a 700 milhões de euros na segunda-feira, um dia antes da reunião de "última oportunidade" para a formação de um governo de coligação, informou hoje o portal da presidência grega.» [fonte] Teme-se a continuação da sangria, até porque já vai em 16 mil milhões de euros o montante depositado pelos gregos no estrangeiro desde 2009, ano em que começou a crise da dívida soberana grega.

Da pena de morte

Às vezes acontece, a morte apanha-nos desprevenidos. Se a morte vem disfarçada de justiça a gente torce o nariz, pois errar é humano e erra-se muito para mostrar serviço ou porque se está sob o jugo do preconceito. Nos EUA há vários casos de inocentes condenados à morte. Agora fala-se de Carlos DeLuna que, em 1989, foi condenado à morte por um assassínio que não cometeu. A justiça falhou ou limitou-se a cumprir o seu papel social?
 Descubra as diferenças
Em Portugal há muito que se eliminou tal pecha dos códigos de justiça, mas o assunto às vezes comparece pela vox populi e há sempre quem deseje fazer justiça pelas próprias mãos. Quando o assunto é o outro é sempre fácil julgar. E errar. Nos EUA isso acontece dentro do próprio sistema judicial, algo que deveria fazer pensar os texanos e outros estados que conservam a pena de morte.

26 abril 2012

Simon Armitage

Sold to the Lady in the Sunglasses and Green Shoes

My girlfriend won me in a sealed auction but wouldn't
tell me how much she bid. "Leave it, Frank. It's not
important. Now go to sleep," she said. But I was restless.
An hour later I woke her and said, "Give me a ballpark
figure." "I'm tired," she replied. I put the light on. "But
are we talking like thousands here?" She rolled away,
pulled the cotton sheet over her head, mumbling, "You're
being silly, Frank." I said, "Oh, being silly am I? So not
thousands. Just a couple of hundred, was it?" "I'm not
telling you, so drop it," she snarled. By now I was wide
awake. "Fifty, maybe? A tenner?" She didn't say anything,
and when Elaine doesn't say anything I know I'm getting
close to the truth. Like the other day with the weed killer.
I said, "Maybe you weren’t bidding for me at all. Maybe
you were after a flat-screen telly or a home sun-tanning
unit, and you got me instead. Tell me, Elaine. Tell me
what I'm worth, because right now I don't know if I'm
an original Fabergé egg or just something the cat dragged
in." Elaine surfaced from under the covers and took a sip
of water from the glass on the bedside table. "Frank, listen.
What does it matter if it was a million pounds or a second-
class stamp? You're priceless, OK? You're everything to
me. Don't spoil it by talking about money." Then she took
my hand and held it against her breast and said, "Do you
want to make love?" I answered with my body, tipping
every last quicksilver coin into her purse.

But that night I dreamed of the boy-slave winning his
freedom by plucking a leaf from Diana's golden bough,
and long before dawn, with bread in my knapsack and
the wind at my back, I strode forth.

From  Seeing Stars

Mary Jo Salter

Peonies

Heart-transplants my friend handed me:
four of her own peony bushes
in their fall disguise, the arteries
of truncated, dead wood protruding
from clumps of soil fine-veined with worms.

"Better get them in before the frost."
And so I did, forgetting them
until their June explosion when
it seemed at once they'd fallen in love,
had grown two dozen pink hearts each.

Extravagance, exaggeration,
each one a girl on her first date,
excess perfume, her dress too ruffled,
the words he spoke to her too sweet--
but he was young; he meant it all.

And when they could not bear the pretty
weight of so much heart, I snipped
their dew-sopped blooms; stuffed them in vases
in every room like tissue-boxes
already teary with self-pity.

From A phone call to the future: New and selected poems

Sharon Olds

Possessed

I have never left. Your bodies are before me
at all times, in the dark I see
the stars of your teeth in their fixed patterns
wheeling over my bed, and the darkness
is your hair, the fragrance of your two heads
over my crib, your body-hairs
which I count as God counts the feathers of the sparrows,
one by one. And I never leave your sight,
I can look in the eyes of any stranger and
find you there, in the rich swimming
bottom-of-the-barrel brown, or in the
blue that reflects from the knife's blade,
and I smell you always, the dead cigars and
Chanel in the mink, and I can hear you coming,
the slow stopped bear tread and the
quick fox, her nails on the ice,
and I dream the inner parts of your bodies, the
coils of your bowels like smoke, your hearts
opening like jaws, drops from your glands
clinging to my walls like pearls in the night.
You think I left--I was the child
who got away, thousands of miles,
but not a day goes past that I am not
turning someone into you.
Never having had you, I cannot let you go, I
turn now, in the fear of this moment,
into your soft stained paw
resting on her breast, into your breast trying to
creep away from under his palm--
your gooseflesh like the shells of a thousand tiny snails,
your palm like a streambed gone dry in summer.

From The dead and the living

Marie Howe

After the Movie

My friend Michael and I are walking home arguing about the movie.
He says that be believes a person can love someone
and still be able to murder that person.

I say, No, that's not love. That's attachment.
Michael says, No, that's love. You can love someone, then come to a day

when you're forced to think "it's him or me"
think "me" and kill him.

I say, Then it's not love anymore.
Michael says, It was love up to then though.

I say, Maybe we mean different things by the same word.
Michael says, Humans are complicated: love can exist even in the murderous heart.

I say that what he might mean by love is desire.
Love is not a feeling, I say. And Michael says, Then what is it?

We're walking along West 16th Street - a clear unclouded night - and I hear my voice
repeating what I used to say to my husband: Love is action, I used to say to him.

Simone Weil says that when you really love you are able to look at someone you want to eat and not
       eat them.

Janis Joplin says, take another little piece of my heart now baby.

Meister Eckhart says that as long as we love any image we are doomed to live in purgatory.

Michael and I stand on the corner of 6th Avenue saying goodnight.
I can't drink enough of the tangerine spritzer I've just bought -

again and again I bring the cold can to my mouth and suck the stuff from the hole the flip top made.

What are you doing tomorrow? Michael says.
But what I think he's saying is "You are too strict. You are a nun."

Then I think, Do I love Michael enough to allow him to think these things of me even if he's not
       thinking them?

Above Manhattan, the moon wanes, and the sky turns clearer and colder.
Although the days, after the solstice, have started to lengthen,

we both know the winter has only begun.

 From The Kingdom of Ordinary Time

17 abril 2012

O povo leva no pêlo e gosta

Mas é preciso explicar bem, diz o mestre Marcelo. Ou seja, é preciso dizer à maralha que se o governo corta é porque é preciso cortar, pois se há coisa que a maralha sabe é que o governo sempre faz o melhor (porque será que o mestre Marcelo diz sempre tão mal dos sucessivos governos é que não se percebe - mas isso é outra história).
Citando: "O Governo tem que esclarecer - e certamente irá esclarecer os portugueses acerca da situação da segurança social, os problemas que existem, os problemas que existem hoje, problemas que existem a curto prazo e problemas que existem a médio e longo prazo", disse Marcelo Rebelo de Sousa à agência Lusa.

Já outras pessoas, menos doutoráveis e televisionáveis dizem preto no branco: "A Segurança Social não tem qualquer problema de sustentabilidade. Dizer agora que a Segurança Social tem problemas de sustentabilidade porque regista o pior ano contabilístico desde 1994 é como ter dito, no passado, que nada precisava de mudar. O que é estranho não é vivermos o pior ano desde 1994, o que é espantoso é a Segurança Social não ter o pior ano de sempre. Portugal nunca viveu em democracia uma recessão tão grave com uma taxa de desemprego tão elevada e reduções salariais nominais tão significativas."
A conclusão é óbvia: "Insegurança. Assim se pode sintetizar o tempo em que vivemos. Como se estivéssemos em estado de guerra. Insegurança no rendimento que levamos para casa fruto do trabalho, insegurança no desemprego, na doença e na velhice. Todos os contratos são quebrados. Todos? Não, há alguns que continuam bem protegidos."

Eles dizem fooking mas é Fucking

Fucking Devagar Por Favor

O Focko's people de uma aldeia austríaca, situada a cerca de 30 quilómetros de Salzburgo, ponderam mudar o nome da aldeia por causa da associação com a a palavra inglesa. Todos os anos, os habitantes deparam-se com várias turistas e mulheres semi-nuas a serem fotografadas ao lado das placas onde o nome da localidade está inscrito.



Para os austríacos, o termo tem origem no apelido Focko, nobre oriundo da Bavária, região do Sul da Alemanha, e remonta ao século VI. Sofreu evoluções, passando a Vucchingen em 1070, Fukching em 1303, Fugkhing em 1532,até chegar a Fucking no século XVIII.



Agora, os 104 habitantes querem mudar a nome da aldeia para Fogging, denominação que foi extinta no século XVI.


10 abril 2012

Da homofobia

As pessoas que têm mais reações contra os homossexuais são aquelas que apresentam maior atração por pessoas do mesmo sexo e que cresceram em ambientes familiares que reprimiram esses mesmos sentimentos, lê-se nas conclusões de um estudo internacional. As conclusões constam de um estudo que incidiu em 160 universitários, na Alemanha e nos Estados Unidos da América, agora publicado no Revista da Psicologia da Personalidade e Social (Journal of Personality and Social Psychology).
Conduzido por investigadores das universidades de Rochester, de Essex e de Santa Bárbara (Califórnia), o estudo é o primeiro que analisou o papel dos pais e da orientação sexual na construção do medo intenso ou de ódio aos homossexuais.

Fonte: JN

Portugal derrapa e perde os passos para as tartarugas

Há quem seja lambe botas por natureza. Veja-se o caso deste colunista que (ingenuamente) quer ensinar o padre nosso ao vigário, tão preocupado com a propaganda do governo. Na verdade, mostra que o que importa (para ele) não é o que se faz, mas o que se "comunica". Lambe botas e idiota (quiçá porque falho de ideias)...
A realidade, claro, não passa cartão a opiniões e segundo a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE), a actividade económica em Portugal deverá continuar a cair. A deterioração das perspectivas de crescimento de Portugal têm vindo a agravar-se e acumulam já mais de doze meses consecutivos em queda, estando significativamente abaixo da média de longo prazo e das médias estimadas para o conjunto da zona euro e da OCDE.
Mário Soares vem a terreiro recordar algo que muitos esquecem na espuma dos dias: "o despesismo do Estado e das empresas públicas continua. Dos grandes "buracos" fala-se pouco e dos casos escandalosos também não. Os responsáveis estão impunes. Tudo continua por esclarecer... Para onde tem ido o dinheiro que o Estado já recebeu? Não se sabe."
Passos Coelho é meticuloso a destruir o Serviço Nacional de Saúde, a dinamitar a escola pública e a retirar direitos a quem trabalha, mas ainda não foi capaz de diminuir as rendas da EDP; não foi capaz de diminuir as gorduras do Estado; não foi capaz de estancar os desperdícios de dinheiros públicos (de que os recentes milhões da Lusoponte são mero exemplo)... Ou seja, Passos Coelho é, de facto, tão mau primeiro-ministro como Sócrates no que se trata em resolver a crise. Mas tem a agravante de ter dito que resolveria coisas que não resolveu e de nos ter esganado muito mais do que o PEC IV esganava.